Hoje
gostaria de falar com vocês sobre um assunto importante. Este pode nos levar a
reflexões e conclusões benéficas na educação e comportamento das crianças.
Trata-se
da AUTO-ESTIMA. E como poderíamos lidar com esta questão em nosso cotidiano de
pais e cuidadores.
Sabemos
por experiência, ou por termos por perto, o estrago que pode-se fazer na vida
de uma pessoa a BAIXA-ESTIMA. Vemos a todo tempo, e por todos os lados, pessoas
que apesar de serem altamente capazes, não conseguem sentir-se desta forma, ou
não conseguem executar ações que evidenciem esta capacidade. Isto embota suas
vidas e as paralisa na direção de seus objetivos e relações prazeirosas.
Quando nos
deparamos com estas situações, nos perguntamos por que será que esta pessoa não
consegue realizar se parece ter todo o necessário para isto?
Muitas
vezes a resposta está na maneira como esta pessoa construiu sua auto-imagem na
transcorrer da vida, em especial lá no início.
Como foi recebida
no mundo, e ainda se aprendeu a ver-se de forma positiva?
Estas
questões nos fazem pensar ainda em outras, que se traduzem na maneira como
educamos ou preparamos nossos filhos para a vida.
E assim,
começamos a nos debruçar e refletir sobre realidades do tipo:
Como
estamos ajudando nossos filhos a perceber seu valor neste mundo?
Como
podemos estar auxiliando o processo de adquirir segurança e amor próprios suficientes
para que sejam seres humanos capazes de aproveitar as oportunidades da vida que
lhe beneficiem, em detrimento daquelas que somente lhes trarão sofrimento e dor,
ou que paralisem?
Quanto
elogios podem ser benéficos, e em que ponto tornam-se maléficos se
supervalorizam a criança?
Antes
esclarecendo o que entendemos aqui por auto-estima, temos que, vamos adotar o
conceito de que seja - a capacidade de gostarmos
de nós mesmos, de nos aprovarmos, a
certeza de que somos capazes de realizar coisas, de que somos competentes em
determinadas habilidades, e também a capacidade de termos uma auto-imagem
positiva.
Partindo
destes questionamentos, podemos pensar que de alguma forma esta imagem que
produzimos de nós mesmos está muito ligada a maneira como somos vistos pelos
nossos acolhedores desde a mais terna infância. Nossa auto-estima é formada
desde o momento em que nascemos, de acordo com a maneira como somos recebidos
no mundo. A forma como somos acolhidos em nossos anseios, desconfortos e dificuldades.
As experiências positivas e negativas que vivenciamos ao longo de nossa vida,
especialmente em nossa infância, vão como que, emoldurando o espelho no qual
nos vemos neste mundo.
Experiências
que resultam em satisfação, conforto, alegria, satisfação de necessidades
auxiliam na composição de uma auto-estima positiva. Sentir-se amado, entendido
e acolhido trazem, sem dúvida, uma sensação de segurança em qualquer momento da
vida, que resulta em uma maior auto-estima.
A
auto-estima é construída a cada passo dado no rumo da evolução, do
desenvolvimento. Aprendemos a falar, a andar, a brincar, a nos relacionar de
uma certa forma, a partir da maneira como somos apoiados, estimulados,
motivados pelo ambiente em que vivemos, e aquilo que este nos proporciona.
O
comportamento dos adultos, dos cuidadores é muito importante na construção
desta que será a base do amor próprio. A criança precisa ser estimulada a fazer
aquilo que já tem condições para fazer, a princípio físicas. Precisa ter espaço
para isto, ser “consolada” quando não consegue seu intento e se sente insegura,
estimulada a tentar novamente outras possibilidades para conquistar seu
objetivo.
Pais
muito inseguros quanto aos seus filhos, ou superprotetores, podem em
consequências educar suas crianças, tornando-as também inseguras, não se
sentindo capazes de realizar. O que traz
muita ansiedade e pode atrapalhar o desenvolvimento global.
Vejam
então, que superproteção acaba por gerar ansiedade e insegurança. Ao contrário
do que se poderia pensar - crianças muito protegidas sentiriam-se muito amadas
e por conseguinte muito seguras! Não - crianças superprotegidas tem uma
probabilidade muito maior de serem inseguras, ansiosas e com baixa-estima,
visto que não sentem-se capazes de realizar por si mesmas, seja o que for, um
trabalho sozinhas, a arrumação de um quarto e seus brinquedos, o atravessar de
uma rua (quando com habilidade suficiente para isto), o preparo ou busca de um
alimento no início de sua vida.
As
crianças quando podem fazer algumas coisas, do ponto de vista físicos e cognitivos,
dão sinais da necessidade de independência neste quesito de alguma forma. É
preciso que os pais fiquem atentos, dêem espaço para que os filhos possam
experimentar o mundo, com a supervisão não mais do que necessária, e assim
desenvolverem-se da forma mais saudável possível.
Estar
presente, auxiliar neste desenvolvimento, facilitar - e não fazer por eles - o
que já podem fazer sozinhos. Elogiar quando alcançarem uma nova conquista,
estimular a vencer obstáculos, ouvir seu filho naquilo que muitas vezes você
não tem o menor interesse, mas que para ele é importante, são ações que vão de
encontro à saúde e ao bem estar na vida presente e futura, construindo uma
imagem positiva de si mesmo, auto-estima
e sentindo-se uma pessoa capaz se ser amada, amar-se e amar aos outros.
As
atitudes e comentários de pais, professores e cuidadores com relação à criança
são muito importantes na construção da auto-estima. Ao invés de criticar
veementemente, repetir por vezes infindáveis que ele não consegue fazer algo ou
ainda que sua incapacidade naquele momento reflete sua incapacidade como
pessoa, ajude-o a encontrar formas diferentes de realizar aquele intuito,
formas que facilitem a aprendizagem e a chegada no objetivo final. Visto que,
NUNCA podemos esquecer que “ninguém nasce sabendo”, e ninguém é obrigado a
saber algo que não lhe foi ensinado. Muitas vezes age-se com a criança como se
ela já soubesse daquele comportamento ou ação, quando a verdade é que isto
nunca foi lhe ensinado, apresentado. Como se ela fosse dotada da experiência e
instrumentos de um adulto. Ela ainda precisa de uma longa estrada para chegar
até aí. Aliás, da sua PRÓPRIA estrada!
Então, aceite seu filho como ele é,
ajude-o a evoluir, tornar-se melhor como pessoa (e isso não quer dizer
necessariamente o que você considera o melhor, mas o que é melhor para ELE -
que é uma pessoa diferente de você, e não sua extensão - em termos de qualidade
de vida).
Também é importante ressaltar, que
quando digo isso tudo, não estou de forma nenhuma querendo, tendo a pretensão
de ditar um manual de como fazer, mas que possamos ter algumas pistas no
sentido de sermos “suficientemente bons”, nas palavras de D.W.Winnicott.
Já basta, sermos suficientemente bons,
dentro de nossas próprias vidas, daquilo que acreditamos com nossos filhos.
Ainda, vale dizer que estimular e
motivar um filho não significa elogiarmos o tempo todo, sem motivos
verdadeiros. O colocarmos em um patamar onde os erros não alcançam, como se
todos seus comportamentos e resultados fossem aceitáveis e muito bons, para
torná-lo alguém seguro. Não, isto é muito estranho para qualquer ser humano,
alguém que nunca erra... inclusive para as crianças. Não soa real!
A questão não é não errar, a questão é
poder reavaliar e encontrar outros caminhos, quando a primeiro ou primeiros não
foram as melhores opções. Ajudá-la a encontrar e perceber que sempre existem
outras possibilidades, mas que todos nós somos passíveis de erro, inclusive nós
pais, mas que podemos tentar novamente, encontrar novas formas. Ajudando-as a
julgar por si mesmas o efeito de seus atos. É preciso incentivar o prazer pela
descoberta, o prazer em ser persistente e superar obstáculos.
Mostra-lhes que nós também erramos,
somos injustos algumas vezes, reconhecemos nossos erros, pedimos desculpas,
tentamos de outra forma, não faz com que nenhuma criança alimente desrespeito
por seus pais - quando isto é feito com verdade, com humanidade. Pelo
contrário, traz o cenário real da vida, e um modelo seguro e saudável a seguir,
afinal não podemos nos abater profundamente, tratar com indiferença e/ou
frustração paralisante os obstáculos da vida, mas assumindo os erros, reavaliando
e tentando melhores resultados. Se a criança tiver uma certa vivência e
observação, com situações deste tipo desde pequena, aprendendo formas de lidar
com elas, a probabilidade de que quando maiores situações difíceis a paralisem,
pode ser menor.
Uma criança que NUNCA erra, de acordo
com seus pais, não precisa melhorar, aprender, evoluir como qualquer outro ser
humano, não desenvolve a habilidade de enfrentar obstáculos, frustrações e
superá-los. E acaba por construir uma visão ilusória da realidade, e de si
mesma.
Os atos de elogiar, estimular,
facilitar se referem muito mais, na laborosa arte de educar, ao desenvolvimento
de um auto-conceito positivo no ser humano, e que será a base para um
enfrentamento produtivo da vida, do que a construção de um “eu” inabalável.
Portanto, sejamos sensatos,
estimuladores e facilitadores do enfrentamento do mundo para estes serezinhos
tão especiais que nós decidimos por neste mundo. E é bem provável que nesta
tentativa de sermos melhores para eles, por amor... possamos nos tornar
melhores para nós mesmos!
Grande abraço à todos.
* Artigo desenvolvido a partir de solicitação de entrevista sobre o tema,
Jornal Correio Braziliense
Repórter responsável: Gláucia Chaves