E quando chega um irmãozinho? Um novo membro na
família?
Nesta situação,
podemos ter aspectos muito positivos e outros nem tanto, mas na grande maioria
das vezes esta adaptação a uma nova configuração de família, depende muito da
maneira com os pais irão conduzir, se posicionar com relação a este momento, de
como a família vem se engendrando até então, além da faixa etária de
desenvolvimento da criança, que tem suas características próprias, e sendo
assim, alguns momentos (relacionados a idade cronológica/de desenvolvimento)
são realmente mais propícios que outros para se receber alguém com o qual vai
se dividir TUDO, a vida, o tempo, os brinquedos, e principalmente a atenção
pais. Vamos falar de cada um destes aspectos de forma mais detalhada.
Bem, em um primeiro momento, vamos destacar os benefícios da vinda de um
irmão para toda a família, principalmente nos casos em que se tem um filho
único.
Vejam só, para a criança que recebe o irmãozinho, os benefícios são
inúmeros com relação a sua constituição como pessoa. Quando se tem um irmão,
normalmente, se aprende realmente a dividir, a se relacionar com o outro de
forma mais solidária, generosa, apesar de isto não parecer uma realidade
em muitos momentos, em função dos conflitos que comumente percebemos nas
relações entre irmãos, mas é justamente na condução da resolução destes
conflitos é que se tem a grande oportunidade de desenvolver-se estes valores
humanos que são tão importantes para a vida em sociedade e para ter-se a
possibilidade de maior êxito e felicidade. Quando olhamos é claro do ponto de
vista dos relacionamentos, que no final das contas são o que acabam por
conduzir nossas vidas, relacionamentos afetivos entre família, de amizade, de
enlace amoroso, relacionamentos na escola, no trabalho, na vida em geral.
É certo que com isto, não estou afirmando que uma pessoa que não tenha
irmãos não terá bons relacionamentos, de forma nenhuma, mas que ter irmãos é
uma grande oportunidade de exercitar o relacionamento entre iguais e
desenvolver valores humanos. E a decisão de ter filhos ou mais filhos é pessoal/familiar que
devendo levar em conta os desejos, as condições emocionais e reais para se
colocar neste mundo mais um ser humano. Porque digamos de passagem, esta é a
decisão mais definitiva desta existência, afinal não existe ex-mãe ou ex-pai,
não é!?
Quanto aos aspectos negativos, me refiro as consequências de uma
condução pouco adequada deste momento. O que seria, em linhas gerais, uma condução pouco adequada? Principalmente, não prestar atenção nesta criança que espera o
irmãozinho, e não prestar atenção nela neste momento, significa não olhar para
ela como uma pessoa única, que tem sentimentos próprios, não procurar
entendê-la pela sua ótica de criança, tomar os comportamentos/atitudes desta
criança pela ótica de um adulto, que tem instrumentos e vivências que ela não
tem. Algum ciúme ela vai sentir, é uma reação normal, está chegando um outro
alguém que vai lhe "tomar" a metade de tudo, e logo no início, na
verdade vai "tomar" muito que mais que a metade.
Os pais precisam ter paciência, ouvir a criança e incluí-la neste
momento (para não gerar ou alimentar o sentimento de estar sendo excluído), é
muito importante, ouvir o que ela fala em palavras, quando a indagamos sobre
seus sentimentos, e também "ouvir" seus comportamentos. Porque
muitas vezes ela não vai falar em linguagem verbal.
Ela pode apresentar comportamentos não usuais, que não faziam parte de
seu repertório antes da chegada do irmão, como: tornar-se mais arredio, tímido,
agressivo e/ou ainda choroso. Relutar em aceitar os pedidos dos pais. Regredir
em comportamentos que já havia adquirido: voltar a fazer xixi e/ou cocô nas
calças, não dormir bem durante à noite, voltar a usar chupeta, não querer mais
frequentar a escola tranquilamente. Estes são exemplos de alguns comportamentos
que podem acontecer quando há uma dificuldade de adaptação com a chegada de um
irmão. Quando isto ocorre, volto a dizer, é importante que os pais
"ouçam" a criança, procurem reavaliar sua conduta neste momento para
amenizar ou facilitar este momento para o filho.Quando é realizada esta tentativa ou ainda quando os pais não conseguem
visualizar como poderiam modificar sua postura, e os comportamentos de
dificuldade de adaptação persistem, aí sim é hora de procurar ajuda de um
profissional, um psicólogo infantil, que possa auxiliá-los neste momento.
Quanto a idade cronológica mais adequada, faixa de desenvolvimento que
seria mais adequada para a chegada de um irmãozinho, não diria que há um
momento certo, depende como já falei, muito da família, mas se formos de fato
pensar nas características esperadas para cada faixa etária, diria que, na
experiência clínica, observo, uma dificuldade maior de adaptação com a
chegada de um irmão na faixa etária de 2 anos e meio à 4 anos, neste período o
mundo inteiro é da criança, ele vive um momento onde experencia ser o centro em
torno do qual o mundo acontece, e aí percebemos uma dificuldade maior em lidar
com a divisão de pessoas/situações/coisas tão essenciais. Passado este período,
o mundo da criança vai se ampliando mais, normalmente coincide com a época da
entrada na escola, que propicia a criança vivenciar a possibilidade de
estabelecimento de vínculos com outras pessoas que não somente seu círculo
familiar, ela normalmente, vai encontrar prazer nestas novas possibilidades, e
isto facilita lidar com as questões da chegada de um irmão, visto que o foco
não está mais somente na família.
É importante também tomar cuidado para não se realizar mudanças maiores
na rotina da criança com a chegada do bebê, como: maiores responsabilidades,
mudança de quarto, começar a frequentar a escola. Estas mudanças deverão ser
feitas bem antes do nascimento ou depois da adaptação com o bebê. Assim as
perdas não serão associadas com a chegada do irmãozinho.
O que dificultaria ainda mais a adaptação.
Com o nascimento do bebê, procurem não se descuidar daquele que,
até o momento, ocupava todos os espaços. Eleve a auto-estima da criança,
potencialize suas qualidades, o inclua nessa mudança, e até mesmo nas decisões
e escolhas quanto ao bebê, que podem ser compartilhadas com ele.
Atribuir-lhe algumas responsabilidades sobre o irmão também pode ajudar
na integração já que assim se sentirá útil e fazendo parte desta cena.
Quanto mais integrada, valorizada, respeitada e
segura do amor dos pais a criança se sentir melhor será a aceitação com relação
ao irmão e a superação das dificuldades de adaptação que se apresentam neste
momento acontecerá naturalmente.
* Artigo desenvolvido a partir de solicitação de entrevista sobre o tema.
Revista AnaMaria
Ed. Abril. Jornalista resp: Lígia Menezes - Site: ligiagmenezes.wordpress.com
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