sexta-feira, 28 de setembro de 2012

ELOGIAR, ESTIMULAR E FACILITAR – VERBOS SAUDÁVEIS




Hoje gostaria de falar com vocês sobre um assunto importante. Este pode nos levar a reflexões e conclusões benéficas na educação e comportamento das crianças.
Trata-se da AUTO-ESTIMA. E como poderíamos lidar com esta questão em nosso cotidiano de pais e cuidadores.
Sabemos por experiência, ou por termos por perto, o estrago que pode-se fazer na vida de uma pessoa a BAIXA-ESTIMA. Vemos a todo tempo, e por todos os lados, pessoas que apesar de serem altamente capazes, não conseguem sentir-se desta forma, ou não conseguem executar ações que evidenciem esta capacidade. Isto embota suas vidas e as paralisa na direção de seus objetivos e relações prazeirosas.
Quando nos deparamos com estas situações, nos perguntamos por que será que esta pessoa não consegue realizar se parece ter todo o necessário para isto?
Muitas vezes a resposta está na maneira como esta pessoa construiu sua auto-imagem na transcorrer da vida, em especial lá no início.
Como foi recebida no mundo, e ainda se aprendeu a ver-se de forma positiva?
Estas questões nos fazem pensar ainda em outras, que se traduzem na maneira como educamos ou preparamos nossos filhos para a vida.
E assim, começamos a nos debruçar e refletir sobre realidades do tipo:
Como estamos ajudando nossos filhos a perceber seu valor neste mundo?
Como podemos estar auxiliando o processo de adquirir segurança e amor próprios suficientes para que sejam seres humanos capazes de aproveitar as oportunidades da vida que lhe beneficiem, em detrimento daquelas que somente lhes trarão sofrimento e dor, ou que paralisem?
Quanto elogios podem ser benéficos, e em que ponto tornam-se maléficos se supervalorizam a criança?

Antes esclarecendo o que entendemos aqui por auto-estima, temos que, vamos adotar o conceito de que seja - a capacidade  de gostarmos de nós mesmos, de nos aprovarmos,  a certeza de que somos capazes de realizar coisas, de que somos competentes em determinadas habilidades, e também a capacidade de termos uma auto-imagem positiva.

Partindo destes questionamentos, podemos pensar que de alguma forma esta imagem que produzimos de nós mesmos está muito ligada a maneira como somos vistos pelos nossos acolhedores desde a mais terna infância. Nossa auto-estima é formada desde o momento em que nascemos, de acordo com a maneira como somos recebidos no mundo. A forma como somos acolhidos em nossos anseios, desconfortos e dificuldades. As experiências positivas e negativas que vivenciamos ao longo de nossa vida, especialmente em nossa infância, vão como que, emoldurando o espelho no qual nos vemos neste mundo.
Experiências que resultam em satisfação, conforto, alegria, satisfação de necessidades auxiliam na composição de uma auto-estima positiva. Sentir-se amado, entendido e acolhido trazem, sem dúvida, uma sensação de segurança em qualquer momento da vida, que resulta em uma maior auto-estima.
A auto-estima é construída a cada passo dado no rumo da evolução, do desenvolvimento. Aprendemos a falar, a andar, a brincar, a nos relacionar de uma certa forma, a partir da maneira como somos apoiados, estimulados, motivados pelo ambiente em que vivemos, e aquilo que este nos proporciona.
O comportamento dos adultos, dos cuidadores é muito importante na construção desta que será a base do amor próprio. A criança precisa ser estimulada a fazer aquilo que já tem condições para fazer, a princípio físicas. Precisa ter espaço para isto, ser “consolada” quando não consegue seu intento e se sente insegura, estimulada a tentar novamente outras possibilidades para conquistar seu objetivo.
Pais muito inseguros quanto aos seus filhos, ou superprotetores, podem em consequências educar suas crianças, tornando-as também inseguras, não se sentindo capazes de realizar.  O que traz muita ansiedade e pode atrapalhar o desenvolvimento global.
Vejam então, que superproteção acaba por gerar ansiedade e insegurança. Ao contrário do que se poderia pensar - crianças muito protegidas sentiriam-se muito amadas e por conseguinte muito seguras! Não - crianças superprotegidas tem uma probabilidade muito maior de serem inseguras, ansiosas e com baixa-estima, visto que não sentem-se capazes de realizar por si mesmas, seja o que for, um trabalho sozinhas, a arrumação de um quarto e seus brinquedos, o atravessar de uma rua (quando com habilidade suficiente para isto), o preparo ou busca de um alimento no início de sua vida.
As crianças quando podem fazer algumas coisas, do ponto de vista físicos e cognitivos, dão sinais da necessidade de independência neste quesito de alguma forma. É preciso que os pais fiquem atentos, dêem espaço para que os filhos possam experimentar o mundo, com a supervisão não mais do que necessária, e assim desenvolverem-se da forma mais saudável possível.
Estar presente, auxiliar neste desenvolvimento, facilitar - e não fazer por eles - o que já podem fazer sozinhos. Elogiar quando alcançarem uma nova conquista, estimular a vencer obstáculos, ouvir seu filho naquilo que muitas vezes você não tem o menor interesse, mas que para ele é importante, são ações que vão de encontro à saúde e ao bem estar na vida presente e futura, construindo uma imagem positiva de si mesmo,  auto-estima e sentindo-se uma pessoa capaz se ser amada, amar-se e amar aos outros.
As atitudes e comentários de pais, professores e cuidadores com relação à criança são muito importantes na construção da auto-estima. Ao invés de criticar veementemente, repetir por vezes infindáveis que ele não consegue fazer algo ou ainda que sua incapacidade naquele momento reflete sua incapacidade como pessoa, ajude-o a encontrar formas diferentes de realizar aquele intuito, formas que facilitem a aprendizagem e a chegada no objetivo final. Visto que, NUNCA podemos esquecer que “ninguém nasce sabendo”, e ninguém é obrigado a saber algo que não lhe foi ensinado. Muitas vezes age-se com a criança como se ela já soubesse daquele comportamento ou ação, quando a verdade é que isto nunca foi lhe ensinado, apresentado. Como se ela fosse dotada da experiência e instrumentos de um adulto. Ela ainda precisa de uma longa estrada para chegar até aí. Aliás, da sua PRÓPRIA estrada!
Então, aceite seu filho como ele é, ajude-o a evoluir, tornar-se melhor como pessoa (e isso não quer dizer necessariamente o que você considera o melhor, mas o que é melhor para ELE - que é uma pessoa diferente de você, e não sua extensão - em termos de qualidade de vida).
Também é importante ressaltar, que quando digo isso tudo, não estou de forma nenhuma querendo, tendo a pretensão de ditar um manual de como fazer, mas que possamos ter algumas pistas no sentido de sermos “suficientemente bons”, nas palavras de D.W.Winnicott.
Já basta, sermos suficientemente bons, dentro de nossas próprias vidas, daquilo que acreditamos com nossos filhos.
Ainda, vale dizer que estimular e motivar um filho não significa elogiarmos o tempo todo, sem motivos verdadeiros. O colocarmos em um patamar onde os erros não alcançam, como se todos seus comportamentos e resultados fossem aceitáveis e muito bons, para torná-lo alguém seguro. Não, isto é muito estranho para qualquer ser humano, alguém que nunca erra... inclusive para as crianças. Não soa real!
A questão não é não errar, a questão é poder reavaliar e encontrar outros caminhos, quando a primeiro ou primeiros não foram as melhores opções. Ajudá-la a encontrar e perceber que sempre existem outras possibilidades, mas que todos nós somos passíveis de erro, inclusive nós pais, mas que podemos tentar novamente, encontrar novas formas. Ajudando-as a julgar por si mesmas o efeito de seus atos. É preciso incentivar o prazer pela descoberta, o prazer em ser persistente e superar obstáculos.
Mostra-lhes que nós também erramos, somos injustos algumas vezes, reconhecemos nossos erros, pedimos desculpas, tentamos de outra forma, não faz com que nenhuma criança alimente desrespeito por seus pais - quando isto é feito com verdade, com humanidade. Pelo contrário, traz o cenário real da vida, e um modelo seguro e saudável a seguir, afinal não podemos nos abater profundamente, tratar com indiferença e/ou frustração paralisante os obstáculos da vida, mas assumindo os erros, reavaliando e tentando melhores resultados. Se a criança tiver uma certa vivência e observação, com situações deste tipo desde pequena, aprendendo formas de lidar com elas, a probabilidade de que quando maiores situações difíceis a paralisem, pode ser menor.
Uma criança que NUNCA erra, de acordo com seus pais, não precisa melhorar, aprender, evoluir como qualquer outro ser humano, não desenvolve a habilidade de enfrentar obstáculos, frustrações e superá-los. E acaba por construir uma visão ilusória da realidade, e de si mesma.
Os atos de elogiar, estimular, facilitar se referem muito mais, na laborosa arte de educar, ao desenvolvimento de um auto-conceito positivo no ser humano, e que será a base para um enfrentamento produtivo da vida, do que a construção de um “eu” inabalável.

Portanto, sejamos sensatos, estimuladores e facilitadores do enfrentamento do mundo para estes serezinhos tão especiais que nós decidimos por neste mundo. E é bem provável que nesta tentativa de sermos melhores para eles, por amor... possamos nos tornar melhores para nós mesmos!

Grande abraço à todos.

 Artigo desenvolvido a partir de solicitação de entrevista sobre o tema,
   Jornal Correio Braziliense
   Repórter responsável: Gláucia Chaves

4 comentários:

  1. Muito bom esse artigo me ajudou muito.

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  2. oi simone, gostei muito do seu modo de pensar e estou precisando muito da sua ajuda, e a minha duvida pode ser util para mais uma postagem...
    tenho uma bebe de 7 meses com uma pessoa muito boa, mas nao somos casados, ele mora com a mae dele e eu com a minha, desde que ela nasceu ela fica uma semana ou duas aqui... uma semana ou duas na casa do pai...ela nao vai sozinha eu vou junto e ate tenho um bom relacionamento com eles, no entanto noto que quando minha filha começa a acostumar com a casa em que esta tenho que ir para a outra casa, e fica assim um vai e vem, e tenho medo de isso influenciar na personalidade dela e ate tirar sua referencia de lar...o que vc acha?

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  3. Olá, muito interessante o seu post. Também sou psicóloga infantil, mas sou analista do comportamento e é sempre bom trocar idéias com colegas. Parabéns pelo blog.

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  4. Olá , passei pela net encontrei o seu blog e o achei muito bom,
    li algumas coisas folhe-ei algumas postagens,
    gostei do que li e desde já quero dar-lhe os parabéns,
    quando encontro bons blogs sempre fico mais um pouco meu nome é: António Batalha.
    Deixo-lhe a minha bênção.
    E que haja muita felicidade e saúde em sua vida e em toda a sua casa.
    PS. Se desejar seguir o meu blog,Peregrino E Servo, fique á vontade, eu vou retribuir.

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